“Anda, Castelo que nunca vais ser habitado!” – Dona Chica
Riqueza, festas e luxúria – Dona Chica
Francisco Peixoto de Sousa, natural da freguesia de Braga, Merelim, fez a sua fortuna no Brasil graças ao comércio de café. Quando faleceu, em 1913, deixou a fortuna à sua filha ainda adolescente Dona Chica. Imediatamente, ela mudou-se para Portugal e casou-se com João José Ferreira Rego.
Dona Chica não se restringiu ao ambiente conservador da ruralidade Portuguesa e rapidamente começou a esbanjar dinheiro em festas, luxúria e na construção do seu palácio de sonho. O Palácio Dona Chica começou a ser construído em 1915, com a única finalidade de albergar as suas grandiosas festas e os seus convidados.
Dona Chica perdeu uma fortuna na construção do magnífico Palácio do Castelo Dona Chica e nunca morou lá.
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A visão inacabada do Palácio Dona Chica
O arquiteto Suiço Ernesto Korrodi, ficou encarregado pelo desenho deste fantástico edifício, mas à boa maneira de Dona Chica, um simples palácio não lhe serviria e instruiu o arquiteto para adotar o design colonialista e exótico do Brasil à data. Incluindo referências neogóticas, rusticas e neoárabes. Importando, também várias espécies de vegetação para ornamentar o jardim como amendoeiras, pau-santo, eucaliptos, japoneiras, palmeiras e pinheiros brasileiros. Algumas arvores, dizem, que ainda persistem por ali.
As telhas são pintadas em verde, pensa-se com o objetivo de camuflar o edifício com a paisagem. Mas na realidade só se for visto do céu, porque todo o restante edifício destaca-se imensamente no meio do jardim. Possivelmente algum motivo religioso?
No jardim existe um lago com uma gruta, para dar um ar de graça romântica à restante luxúria.
O resultado, é um edifico deslumbrante, apesar de nunca acabado. Depois de se ter enviuvado duas vezes, e já com um filho, Dona Chica voltou ao Brasil onde voltou a casar e por lá ficou até ao final da sua vida em 1960.
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A maldição no Castelo Dona Chica
Antes de partir para o Brasil, Dona Chica lançou uma maldição ao palácio “Anda, Castelo, que nunca vais ser acabado ou habitado!“. A verdade é que a maldição se cumpriu, parcialmente, até à data. O Palácio foi mudando de mãos durante anos e as obras foram-se arrastando até que em 1991 crê-se que se concluíram.
O palácio que inicialmente foi orçamentado em 370 contos de réis (moeda antiga portuguesa) em 1915, foi vendido em 1938 a um fidalgo britânico por 165 contos de réis, que por sua vez o vendeu por 80 contos de réis ao guarda-livros do conde de Vizela, Francisco Alves de Macedo. Este ultimo continuou as obras, mas a autarquia local embargou-as devido a divergências. Este ficou ao abandono e em decadência até ser adquirido, bastante mais tarde, pela junta de freguesia que o entregou à Ipaltur, uma empresa de turismo, num contrato de longa duração. Esta entidade iniciou obras de restruturação para o tornar num centro de lazer com bar, discoteca, restaurante, salas de reuniões e congressos.
Ainda antes de terminadas as obras e iniciar atividade, o palácio foi reconhecido como imóvel de interesse público a 20 de Fevereiro de 1985. A Ipaltur, tendo antes hipotecado o edifício junto do banco Caixa Geral de Depósitos por 750 mil euros e sem rendimentos do mesmo, entrou em processo de falência, acabando o palácio nas mãos da Caixa Geral de Depósitos, em 1998, numa aquisição em hasta pública por 1.5 milhões de euros. Os demais credores, cerca de 20, viram-se obrigados a recorrer à justiça para reaver os seus dinheiros, numa luta que andou até 2003, acabando no supremo tribunal de justiça que decidiu contra eles.
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A degradação persiste
À data deste artigo, o deslumbrante Palácio de Dona Chica, continua abandonado e em degradação. A certa altura esteve à venda por 2 milhões de euros, mas será que alguém quer tomar conta de tal maldição?
Não é possível entrar no espaço mas é possível ver em volta através de portões e aberturas a magnificência e o esbanjamento de Dona Chica num espaço aberto a festas e luxúria numa época tão conservadora. Se calhar, para libertar a maldição, alguém tem que ser tão arrojado como ela e fazer algo muito fora da caixa dentro daquele espaço.