Hiroshima sempre foi um dos locais que sonhei visitar no Japão. Pelo peso da história relativamente recente que tem e que ainda hoje ecoa.
Hoje, com constantes ameaças de ataques nucleares, acho importante conhecer o impacto do uso de tais armas.
O tempo não ajudou muito, a humidade é tanta que as lentes da câmera estavam sempre embaciadas. Mas lá fui limpando e sobretudo sentindo todas as emoções de percorrer o Japão pela primeira vez.
Há Radiação em Hiroshima?
Já sei que é o que queres já saber e se me cresceu um olho extra. Não, não há radiação em Hiroshima acima do que seria normal encontrar em qualquer outro sitio “normal” no mundo.
A situação de Hiroshima é diferente dos casos de desastres nucleares como Chernobil e Fukushima, enquanto que as centrais nucleares tinham o material radioativo concentrado junto ao solo e sobre pressão nos tanques. Fazendo que a explosão fosse muito mais pequeno, deixando o material concentrado com altos níveis de radiação.
A bomba que atingiu Hiroshima (little boy) foi maquiavelicamente desenhada para obter o máximo de destruição e casualidades na explosão. A detonação ocorreu a centenas de metros do solo para que a onda de choque chegasse mais longe, fazendo com que o material radioativo se espalhasse com menores concentrações e muita dele até tenha sido levado pelo vento.
Cúpula da Bomba Atómica e o Parque e Museu do Memorial da Paz
A 6 e 9 de Agosto de 1945, Hiroshima e Nagasaki foram o palco do uso brutal das bombas nucleares. Estima-se que mais de 200.000 pessoas morreram apenas em Hiroshima, numero que não é definitivo porque é difícil contabilizar as mortes que ocorrem anos depois, devido à exposição à radiação.
74 anos depois, a cidade de Hiroshima é um exemplo para muitas outras cidades, organizada, muito limpa, desenvolvida e com ligação forte à sua história e cultura.
O primeiro e mais importante local a visitar, são com certeza estes espaços. Prepara-te emocionalmente, porque é pesado. Eu e muitas pessoas que vi, fizemos um esforço imenso para segurar as lágrimas dentro do museu. O aperto na garganta quando vi as roupas das crianças e os efeitos em quem não morreu instantaneamente quando a bomba detonou.
O Parque Memorial da Paz é grande e muito bonito. Apesar de não ser requerido, as pessoas instintivamente respeitam o local com silêncio.
A cúpula foi o único edifício que ficou em pé junto ao centro da explosão da bomba nuclear. Foi decidido mantê-lo assim como memória do desastre que destruiu a cidade.
No Museu da Paz de Hiroshima podes ver objetos, fotografias e vídeos únicos que demonstram a brutalidade da explosão, da onda de calor, da chuva negra e da radiação.
É impressionante ver os relatos de sobreviventes que viram de perto os seus familiares a sofrer sem nada poder fazer, ver cartas de Albert Einstein que recomendavam o uso desta tecnologia como arma e muito mais.
Se são sensíveis, tentem preparar-se para o que vão sentir.
A Radiação Perdura Ainda Hoje
O uso de bombas nucleares, como em Hiroshima e Nagasaki, e os testes nucleares irresponsáveis de bombas semelhantes e outras bem mais poderosas por potencias mundiais, aumentaram a quantidade de carbono-14 na atmosfera.
O carbono-14 é um isótopo radioativo que fica no ar e que as plantas absorvem durante a fotossíntese. Os animais comem as plantas, nós comemos os animais e o carbono-14 entra no nosso corpo até ao ponto celular.
A cada 11 anos, a quantidade de carbono-14 na atmosfera, reduz para metade.
Inteligentemente, cientistas aproveitaram o facto de conseguirem datar o carbono-14 a cada data de explosão nuclear e fazer descobertas incríveis e muito importantes.
Por exemplo, o tecido de teu tendão de Aquiles é o mesmo que tinhas que tinhas quando adolescente. O cortex, a parte do teu cérebro responsável pelo pensamento abstrato e movimentos voluntários, é tão velho como tu. No entanto o hipocampo que é responsável pela memória, cria cerca de 1400 novos neurónios por dia e cada um vive cerca de 20 a 30 anos. A tua pele tem apenas 14 dias, a superfície do teu intestino tem apenas 5 dias e a células de gordura têm 10 anos, por isso é que é tão fácil voltar a engordar depois de uma dieta.
Não só nos humanos mas também nas plantas e outros animais descobertas muito importantes têm sido à conta das bombas nucleares. E nota que é em todo o mundo, não só onde a bom explodiu.
Este monumento represente um relógio para às 8:15, hora em que a bomba caiu.
Vão encontrar vários monumentos com esta representação, tanto pela hora do horror, como pelos vários relógios que pararam na data e vão ver no museu. Relógios de bolso, de pulso, etc. O poder da onda de choque foi tal, que os parou. Imaginem o que aconteceu aos corpos que os usavam.
Este cenotáfio foi concebido em 1952 por Kenzo Tange, que tinha o desejo de reconstruir Hiroshima.
O telhado foi concebido de forma a abrigar as almas das vítimas da chuva.
O monumento está inscrito com as palavras: “Que todas as almas aqui descansem em paz, pois não vamos repetir o mal”. A câmara de pedra no centro abriga o registo dos nomes das vítimas da bomba A falecida, independentemente da sua nacionalidade. Os nomes são acrescentados quando uma pessoa relacionada com uma vítima falecida faz um pedido. A partir de 6 de Agosto de 2016, o registo compreende 111 volumes, incluindo 110 volumes com 303.195 nomes e um com as palavras: “Muitas vítimas com os seus nomes desconhecidos”.
O Sino da Paz de Hiroshima
Concluído em Setembro de 1964 pelo artista de bronze e metais Masahiko Katori, o sino da paz está repleto de simbologia forte e profunda.
A cúpula que cobre o sino destinava-se, de acordo com Katori, a representar o universo. A concha do sino, no exterior, mostra um mapa de um mundo sem fronteiras, na zona onde o tronco bate no sino está o símbolo atómico que representa o fim das armas atómicas no mundo.
Em volta do sino está um lago com flores de lótus, as mesmas que foram usadas para estancar as hemorragias dos feridos nesse dia fatídico.
Castelo e Torre de Hiroshima
Este foi o meu primeiro contato com a cultura mais antiga Japonesa. O Castelo de Hiroshima data de 1589. A sua torre foi destruída quando a bomba caiu sobre a cidade. Foi reconstruída em 1958 e agora serve como museu histórico da cultura samurai.
A vista do topo é incrível, desenhada com o propósito de avistar os inimigos a aproximarem-se de todas as direções, hoje serve como um miradouro sobre os jardins e a cidade.
Os jardins que o rodeiam são lindíssimos e vale a pena passar algum tempo a caminhar por aqui.
Santuário Miyajima Itsukushima
Este santuário construído por volta do ano 600, crê-se que tenha sido construído para honrar as almas dos defuntos. Acreditava-se que que quando as pessoas morriam, as suas almas atravessavam de barco a porta para o “próximo mundo”.
Este é um dos pontos com mais turismo de Hiroshima. Infelizmente não tive oportunidade de visitar devido ao mau tempo.
Onde Comer?
Antes de mais, qualquer 7Eleven serve para comprar boa comida a muito bons preços. O meu estilo de viagem não se prende a fazer todas as refeições em restaurantes de topo por uma questão de tempo e de orçamento. No entanto, reservo pelo menos uma ou duas para experimentar, com tempo um local de referência e a gastronomia típica.
Outro conselho, é usar o site Gurunavi.com, funciona muito bem e são recomendações de japoneses e não de influencers pagos.
Posto isto, um dos pratos tradicionais de Hiroshima é o Okonomiyaki. Assim muito simplificado, é um espécie de omolete de noodles. Experimentei ao almoço no Nagataya e gostei sobretudo do atendimento super prestável e simpático.
Ao jantar, experimentei um restaurante de Yakiniku, que basicamente é carne na brasa que tu cozinhas na mesa. Sempre tive curiosidade de experimentar, mas ou este restaurante não foi a melhor escolha ou este prato é estupidamente caro.
Quanto tempo?
Para visitar os pontos mais importantes de Hiroshima, 1 ou 2 dois são suficientes. Sobretudo tendo em conta que deves ter tempo limitado e pretendes visitar outras cidades com muito mais para ver.
Como chegar a Hiroshima?
O meu ponto de chegada ao Japão foi o aeroporto de Hiroshima. Se forem de outras cidades podem ir de comboio, utilizando o JRpass ou de autocarro. Ambas as soluções são boas e confortáveis.
Podes ler mais informação no artigo Transportes no Japão.