É tão comum, que pode ser qualquer um. O problema é que ninguém quer falar sobre isso. E isso torna tudo pior
Ruby Wax
Infelizmente a pandemia e os consequentes isolamentos e agora a guerra, têm vindo a prejudicar cada vez mais a saúde mental da população.
O uso de antidepressivos e outras drogas, legais e ilegais, parece estar a aumentar cada vez mais.
A economia continua a ser afetada em vários países do mundo e, com a mesma, o aumento do stress e desemprego que acabam por revelar forte impacto no seio familiar.
Após uma análise feita em alguns países do mundo relata-se que estes fatores poderão ser considerados fatores de risco para o suicídio.
Uma vez que o foco parece ser apenas tomar controle da situação, porque não focarmo-nos em realmente tomar medidas para melhorar a saúde mental?
Vivemos cada vez mais do medo, pânico e angústia alimentados pelos media e pelas redes sociais.
Na realidade a maior pandemia é a saúde mental. O isolamento, a exclusão, o racismo, a economia, moem a nossa mente todos os dias, a toda a hora, a todos os minutos. A sensação de peso no peito, de preocupação por não estar ao nível do que a sociedade espera de nós, do que os mais próximos esperam de nós, do que nós próprios nos impomos como padrão de vida. Hoje em dia os padrões de cidadão aceitável estão tão altos, que nos exclui e isola num canto dedicado aos não adaptados de forma cruel e agressiva.
O medo da guerra, das bombas nucleares, das doenças, dos juros, da violência alimentado pelos media. A ansiedade de não alcançar o sucesso financeiro, de perder o investimento que nos tornará ricos, de não perceber leitura corporal, de não estar a cumprir com uma religião, com uma crença, de não apoiar o clube vencedor, de não fazer a aposta certa, essa sede fictícia que as redes sociais nos iludem com workshops, tutoriais de supostos “vencedores”. Estamos cada vez mais dependentes da droga de perder a oportunidade (FOMO – Fear of Missing Out) E como droga que é, devia ser controlada.
Então, que cuidados devemos ter? Quais as redes de apoio emocional disponíveis para aqueles que estão em isolamento e se encontram depressivos? Estas são estratégias IMPRESCINDÍVEIS e, no entanto, estes problemas não têm ênfase no discurso social.
O Suicídio
O aumento do Medo social tem forte impacto psicológico no indivíduo, contribuindo (ainda mais) para o isolamento e exclusão social que acabam por ser, muitas vezes, responsáveis pelo aumento das taxas de suicídio. É uma realidade ASSUSTADORA que abrange vários países do MUNDO!
O Japão já era “famoso” pelos seus elevados índices de suicídio, o que faz com que pareça ainda mais assustador ao anunciar que, estes índices aumentaram ainda mais na segunda onda da Pandemia – um total de 29938 suicídios com maior incidência em mulheres (“9984 mulheres; 3.7% com 20 anos ou mais novas, 10.5% com 80 anos ou mais velhas” (Koda et al., 2021).
Relativamente à Europa, países como a Finlândia, Sérvia, República Checa, Eslováquia e Eslovênia revelam um decréscimo de casos de suicídio. Estes têm investido em formações, linhas de apoio gratuitas assim como videochamadas com profissionais de saúde. No entanto, as taxas de suicídio não são iguais em todos os países.
Em França, os índices de suicídio entre crianças e jovens (15 anos ou ≤ ) são elevados- note-se um decréscimo no início da Pandemia (36%) seguido de um aumento significativo em Setembro – Outubro (38.4%) e Novembro- Dezembro (40.5%) (Cousien 2021).
A EURACTIV destaca, em 2022, a Espanha (com o triplo de casos), Bulgária (em 500 indivíduos que cometem suicídio 70% são jovens) e Croácia (aumento de 57.1% em jovens entre 15-25 anos e 40% dos casos reportam indivíduos com +/de 65 anos) como os países com índices de suicidio mais elevados entre jovens.
Na Romênia reporta-se que o recurso a pensamentos suicidas entre jovens aumentou de 2% (antes da pandemia) para 16% na atualidade.
Países como a Itália que não atualizam a sua base de dados desde 2017 e, como tal, não se observa diferença! Estes países justificam a falta de dados com a dificuldade de definir um suicídio e incluir os dados em estatísticas em tempo relevante.
“O ser humano como ser social necessita de afeto e contacto pessoal”
O Isolamento e Exclusão Social são considerados fatores de risco para o suicídio e como estes também:
- O aumento do desemprego e stress social;
- O aumento de sentimentos depressivos;
- O aumento da ansiedade e pensamentos negativos;
- A não preparação do Governo para dar respostas alternativas ao problema;
- A sobrelotação dos hospitais e atraso na visita médica (com mais de 6 meses);
- A falta de profissionais de saúde (na Polônia “existe 1 psiquiatra para 20000 jovens);
- O excessivo custo das clínicas privadas.
- (Kang, Ji-Hun., et al., 2021; Euroactiv, 2022)
O suicídio tem vindo a aumentar com o pânico e medo social!
O medo é algo que, uma vez não bem digerido, poderá ser destrutivo, contribuindo para um aumento da ansiedade, sentimento de desespero, depressão e SUICIDIO!
Primeiros sinais de alerta!
- Desespero e inquietação;
- Dormir em excesso;
- Falta de prazer pela vida;
- Discurso depressivo;
- Instabilidade emocional;
- Falta de interesse em actividades de lazer;
- Aumento do consumo de álcool e drogas;
- Comportamentos destrutivos.
Estes são alguns exemplos, no entanto realça-se que em alguns casos não são evidentes os sinais de alerta, sendo necessária uma extra atenção (especialmente para aqueles que vivem mais isolados e que já apresentavam sentimentos depressivos) pelo facto do isolamento acabar por ser camuflado nas restrições impostas pela pandemia.
Como prevenir a o declínio na saúde mental
A saúde mental é uma das doenças mais difíceis de tratar e muitas vezes nunca é tratada completamente, mas sim aprende-se a viver com ela de uma forma equilibrada. Aprender a perceber sinais antecipadamente pode ajudar a não entrar numa espiral descendente que se tornará muito mais complicado sair dela.
Um dos maiores problemas é conseguir ter força para pedir ajuda, até porque problemas como a depressão são principalmente determinados pela incapacidade de pedir ajuda. Mas se ainda tens essa bocadinho de força em ti, não hesites em contatar uma linha de apoio como a Sosvozamiga, Voz de Apoio, Linha SOS Estudante. Podes também procurar um psicólogo ou fala com alguém próximo de ti e explica o que estás a sentir. No entanto, nunca dispenses a ajuda de um profissional, mesmo que tenhas algum amigo que aceita ouvir-te, nem sempre o desabafo é suficiente.
Se pensas que ainda não chegaste a esse ponto, experimenta o contato com a natureza, dá o passo e inscreve-te em atividades que promovam essa ligação. A natureza, o equilíbrio e a paz que lhe estão inerentes são uma forma de influenciar o equilíbrio que precisas.
Experimenta um desporto novo, faz algo que nunca fizeste, já pensaste em viajar sozinho/a? Para mim é a melhor terapia, sobretudo interagir com outros viajantes que não têm rótulos e querem verdadeiramente conhecer a tua essência, quem tu és e admiram-te da forma que és, sem julgamentos. Lembra-te, o objetivo principal é saíres do meio tóxico que te está a envenenar todos os dias. Qualquer iniciativa que te faça sair, é uma boa escolha.
A busca da felicidade no “jackpot”
A felicidade não está num “jackpot”, aliás, fica aqui o recado a todos os responsáveis por permitirem a constante lavagem de cérebro em todos os media com a mensagem subliminar de vidas de rico praticamente inalcançáveis, mas que uma aposta te dá essa esperança. Na realidade, sempre que perdes, (que é definitivamente o mais provável) entras mais um bocadinho em depressão por não teres tido sucesso, num jogo que está feito para tu perderes.
Envergonha-me, como português, que seja permitido a uma instituição de solidariedade como a Santa Casa da Misericórdia, promova tão agressivamente jogos do azar e se mantenha de tal meio sabendo perfeitamente que estão a alimentar um problema crescente na sociedade, para além da saúde mental, a desigualdade.
Procura a felicidade dentro de ti
Esquece os estereótipos de vida perfeita ou aceitável que a sociedade te impõe, não precisas de ter isto ou aquilo, não precisas de ter este ou aquele. Tu precisas de acordar com um sorriso e deitar-te com o mesmo sorriso. A felicidade não está no melhor telemóvel, no melhor carro, na melhor casa até porque vai haver sempre melhor que não conseguirás alcançar. A felicidade não está num parceiro que fica bem em fotos no instagram, nem numa lista extensa de relações sexuais, a felicidade está num “bom dia” sincero e num “boa noite” que te enche o coração antes de adormeceres serenamente.